terça-feira, 21 de agosto de 2012

Árvore Generosa


Árvore Generosa
Era uma vez uma árvore que amava um menino.
E todos os dias o menino vinha e juntava suas folhas
e com elas fazia coroas de rei; com elas brincava de rei da floresta.
Subia em seu grosso tronco, balançava-se em seus galhos, comia suas maçãs.
E brincavam de esconder.
Quando ficava cansado, o menino repousava à sua sombra fresquinha.
O menino amava a árvore profundamente. E a árvore era feliz.
Mas o tempo passou. O menino cresceu.
E a árvore muitas vezes ficava sozinha.
Um dia, o menino veio e a árvore disse: "Menino, venha subir no meu tronco, balançar-se nos meus galhos, comer as minhas maçãs, repousar à minha sombra e ser feliz."
"Estou grande demais para brincar", o menino respondeu.
"Quero comprar muitas coisas, eu quero me divertir e preciso de dinheiro.
Você tem algum dinheiro que possa me oferecer?"
"Sinto muito", disse a árvore, "mas não tenho dinheiro. Tenho apenas as minhas folhas e as minhas maçãs.
Mas, leve as maçãs, Menino. Vá vendê-las na cidade. Então terá o dinheiro e você será feliz."
E assim, o menino subiu pelo tronco, colheu as maçãs e levou-as embora.
E a árvore ficou feliz.
Mas o menino sumiu por muito tempo...
E a árvore ficou tristonha outra vez.
Um dia, o menino veio e a árvore estremeceu, tamanha a sua alegria, e disse:
"Venha, Menino, venha subir no meu tronco, balançar-se nos meus galhos e ser feliz."
"Estou muito ocupado para subir em árvores", disse o menino.
Eu quero uma casa para me abrigar; eu quero uma esposa, eu quero ter filhos, pra isso é preciso que eu tenha uma casa. Você tem uma casa para me oferecer?"
"Eu não tenho casa", a árvore disse.
"A casa em que moro é esta floresta. Mas corte meus galhos e faça sua casa, e seja feliz."
O menino depressa cortou os galhos e levou-os embora para fazer uma casa.
E a árvore ficou feliz.
O menino ficou longe por um longo, longo tempo, e no dia que voltou, a árvore ficou alegre, de uma alegria tamanha que mal podia falar.
"Venha, venha, meu Menino", sussurrou: "venha brincar."
"Estou velho para brincar", disse o menino, "e estou também muito triste."
"Eu quero um barco ligeiro que me leve pra bem longe. Você tem algum barquinho que possa me oferecer?"
"Corte meu tronco e faça o seu barco", a árvore disse.
"Viaje para longe e seja feliz".
O menino cortou o tronco, fez o barco e viajou.
E a árvore ficou feliz... mas não muito.
Muito tempo depois, o menino voltou.
"Desculpe, Menino", a árvore disse, "não tenho mais nada pra lhe oferecer."
"As maçãs já se foram."
"Meus dentes estão fracos demais para maçãs", falou o menino.
"Já se foram os galhos pra você balançar", a árvore disse.
"Já não tenho idade para me balançar", falou o menino.
"Não tenho mais tronco para você subir", a árvore disse.
"Estou muito cansado e já não sei subir", falou o menino.
"Eu bem gostaria de ter qualquer coisa pra lhe oferecer", suspirou a árvore. "Mas nada me resta, e eu sou apenas um toco sem graça. Desculpe..."
"Já não quero muita coisa", disse o menino, "só um lugar sossegado onde possa me sentar, pois estou muito cansado."
"Pois bem", respondeu a árvore enchendo-se de alegria, "eu sou apenas um toco, mas um toco é muito útil para sentar e descansar.
Venha, Menino, depressa, sente-se em mim e descanse."
Foi o que o menino fez.
E a árvore ficou feliz.

(Shel Silverstein - tradução: Fernando Sabino)

O início da Genética

Muito cedo na historia da humanidade, o ser humano notou que existem semelhanças entre pais e filhos. Isso se aplicava não apenas à espécie humana, mas também aos animais domésticos e as plantas cultivadas. No entanto, o entendimento de como essas semelhanças eram transmitidas começou a se formar há menos de 140 anos! Por que a compreensão desses mecanismos não ocorreu antes? Primeiro, as semelhanças nas famílias não apareciam apontar para nenhuma regra geral. Herdamos, às vezes, a cor dos olhos de nosso pai, a forma do queixo de nossa mãe, a forma da orelha de um tio distante ou o daltonismo de nosso avô materno. Para aumentar ainda mais a confusão, certos caracteres pareciam ser a “média” entre a característica paterna e a materna. Um exemplo é o tipo de cabelo. Homens de cabelos crespos casados com mulheres de cabelos lisos têm, quase sempre, filhos de cabelos ondulados, caráter intermediário em relação ao de seus pais.
Outro fator que atrasou muito a compreensão da herança foi o desconhecimento dos eventos da reprodução. Durante muito tempo não ficou claro, por exemplo, o fato de que os progenitores de ambos os sexos, tanto em animais como em vegetais, participam da reprodução, cada um deles fornecendo células sexuais.
No caso das plantas, essa noção foi aceita apenas em meados do século XIX, a partir de cruzamentos experimentais. Fica evidente que, enquanto os próprios fatos da reprodução constituíam um mistério para os estudiosos da vida, nenhuma teoria poderia explicar a hereditariedade de maneira satisfatória. Para nós, que vivemos no século XXI, pode parecer estranho que acontecimentos tão elementares fossem ignorados durante tanto tempo. Afinal, nos dias de hoje a idéia de gene e de cromossomo, a maneira como eles se distribuem na divisão celular e o fato de o DNA ser o material genético são conceitos muito familiares. Até meados do século XIX, no entanto, tudo isso era desconhecido; a hereditariedade ainda não tinha uma explicação científica.
Em 1865, o monge tcheco Gregor Mendel, fazendo experiências com ervilhas, começou a esclarecer esse problema. Para explicar os resultados que estava obtendo, Mendel supôs a existência de genes (ou fatores) nos organismos e sugeriu um mecanismo de transmissão desses genes de pai para filho.
Os biólogos da época, porém, não entenderam a importância dos trabalhos de Mendel. Foi apenas no ano de 1900, depois da morte do pesquisador, que três outros cientistas, Correns, Tschermak e De Vries, confirmaram, cada um com seus experimentos, os resultados e as conclusões de Mendel. É, portanto, em 1900 que se iniciam as pesquisas sistemáticas nessa nova ciência, que foi denominada Genética. Porém, foi somente por volta de 1910 que se entendeu que os genes “moram” nos cromossomos, e que são distribuídos às células-filhas nas divisões celulares.
Por fim, em 1944, verificou-se que os genes são pedaços de DNA. Dessa época em diante, inúmeras pesquisas fizeram com que se entendesse, cada vez melhor, como eles controlam a atividade das células.